Após cerca de 3 anos a viver em Angola, mais propriamente vivendo em Luanda, pensamos que é altura para olhar para trás e pensar sobre tudo o que aprendemos enquanto expatriados em Angola.
Viver em Angola é viver num lugar bem diferente e exótico, é ser exposto a uma realidade tão diferente da que estávamos habituados que nos dá uma perspectiva diferente sobre as coisas, aprender a coisas inesperadas, e no fim no contribuir activamente para o nosso objectivo final de apreciar ao máximo a vida.
O que aprendemos vivendo em Angola?
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#1 Em Angola aprendemos a ter mais paciência
Luanda testa e volta a testar a nossa paciência diariamente e de todas as formas possíveis. No início, é muito possível que uma pessoa “se passe” algumas vezes, eu sei que isso me aconteceu… Quando se pensa “não há mais nada que possa acontecer hoje” é quando algo de realmente inacreditável vai acontecer. Mas uma pessoa habitua-se… quer dizer, mais ou menos…Se não se habituarem, então o vosso tempo em Angola pode-se tornar complicado.
Muitos dos nossos amigos e colegas expatriados dizem constantemente que precisam de ir a Portugal (ou ao seu país de origem) a cada 3 ou 4 meses para relaxar e fazer uma pausa. Acreditem, estas pausas são cruciais. Sair desse ambiente com um trânsito absolutamente louco, da constante procura da gasosa, as longuíssimas horas de trabalho, e o sentimento de insegurança, as possíveis (e prováveis) falhas de eletricidade e água, a ausência de moeda estrangeira… e por aí fora…
Aprendemos a viver com estas questões do dia a dia, a não nos sentirmos tão incomodados com elas ou pelo menos a releva-las. Depois de um certo tempo a viver e trabalhar em Angola com um pouco de paciência e de flexibilidade aprende-se a resolver todas estas coisas, e isso torna-se uma experiência inestimável e algumas histórias engraçadas para contar no futuro.
#2 Apreciar a eletricidade
Depois de tanto tempo em Angola, aprendi a adorar a eletricidade e saber o que sofro sem ela. Aprendi a valorizar coisas que sobre as quais nunca tinha pensado. Agora sei tudo o que não é possível fazer sem eletricidade e vou partilhar com vocês: sem eletricidade NADA FUNCIONA!
Não há Tv, internet, computador (pelo menos depois da bateria acabar), a bomba de água não funciona, logo não há água, e por isso não dá para tomar banho ou lavar a loiça… o frigorífico e o congelador não funciona e começa tudo a derreter e eventualmente estragar-se; não podemos carregar o telemóvel… até para entrar em casa a noite é um problema porque está tudo escuro, não se vê nada e é muito mais perigoso…
Já mencionamos como Luanda é quente? bem, sem internet não há ar condicionado, e por isso dormir com o calor infernal que por vezes faz é um pesadelo… e é por isso que muitas vezes dizemos que em Angola, o Jorge, a Claudia e a eletricidades têm um amor a três… 🙂
#3 A desenrascar coisas em casa
Eu até posso ter algumas qualidades mas desenrascar coisas em casa não é uma delas… ou melhor, não era! A necessidade aguça o engenho, e a necessidade em Angola é bem alta… Em Luanda é muito provável que se aprenda a arranjar algumas coisas em casa, ou no mínimo terá muitas oportunidades para o fazer. Algumas das coisas que nunca pensei que precisaria de fazer incluem mudar a bateria do carro, carregar a bateria do carro, arranjar o gerador, sangrar a bomba de água, mudar o balão da bomba de água, mudar o pneu do carro (ok, esta é mais normal, mas nunca tinha precisado de o fazer antes de vir para Angola)… Antes de ir ainda queria aprender a fazer a manutenção ao gerador, talvez o consiga 😀
#4 A substituir as 3 companhias
Arrendar casa em Luanda tem bastantes peculiaridades, além de tudo o resto que nos temos que preocupar que é semelhante ao resto do mundo, temos de garantir que conseguimos-nos substituir às 3 companhias! Ou seja, temos que garantir que não necessitamos das companhias públicas de Angola: a Tcul, (transportes), a EPAL (água) e a EDEL (eletricidade). Elas existem, e proporcionam os seus serviço… quando calha… A verdade é que as empresas públicas angolanas não são fiáveis, e não podemos contar com elas a 100%, ou seja, temos que garantir que conseguimos substituí-las quando falham.
Assim, a nossa casa tem obrigatoriamente de ter: Gerador, bomba de água, e necessita de estar bem localizada e ter acesso a viatura particular.
Infelizmente, as companhias de internet não são muito melhores que as acima, mas temos de aprender a viver com isso… não há muito a fazer.
#5 Estar em constante alerta
Uma das primeiras coisas que aprendi em Angola foi estar em constante alerta, devido ao ambiente pouco familiar e ao quase constante sentimento de insegurança. Com o tempo, esta questão desvanece, mas está sempre lá. Hábitos como verificar se realmente fechamos a porta de casa e trancamos o carro, ver se estamos a ser seguidos, ver se aquele bairro parece seguro para andar por lá, tanto de carro como a pé…
Evitamos sempre andar em ruas com demasiada gente, caminhamos rapidamente como se estivessemos concentrados num objetivo, e evito sempre ter a carteira e telemóvel na mão.
Aprendemos a ter cuidado com água e comidas frescas e a temer mosquitos vigorosamente, devido aos risco de febre tifóide, malária e outras doenças tropicais, e as não os queremos assustar, nós nunca tivemos febre tifóide ou malária e apenas fomos assaltados uma vez. Mas não tenho problema em admitir que aconteceu porque fui um bocado parvo…
#6 Aprendi a regatear
Tal como já escrevemos bastantes vezes anteriormente, os vendedores de rua fazem parte da cultura Angola. Honestamente, não sou o maior fã de comprar coisas na rua, mas como toda a gente, faço-o regularmente. Uma coisa boa é que podemos regatear, muito, pouco ou nada, consoante nos sentirmos confortáveis.
Com o tempos uma pessoa habitua-se tanto a comprar na rua como a regatear um pouco, até porque começamos a conhecer os preços de mercado. Apenas não espere conseguir comprar tudo ao mesmo preço que os Angolanos, pelo menos eu sei que não consigo. Mas sei que agora consigo regatear quando acho justo e necessário, pois sei qual o valor real das coisas em Luanda.
Luanda é uma cidade com um charme muito próprio, e é importante que quem vem de fora saiba que vêm para um país bem diferente e não espere que possa ter tudo o que tem no seu país de origem! A chave para tudo isto é bastante simples, ter a capacidade de se adaptar e desfrutar tudo o que de bom existe no país.
Enquanto vivi em Luanda, aprendi que sou muito mais flexível do que alguma vez pensei. Acredito que esta capacidade de adaptação é inerente a quase toda a gente, é sobretudo uma questão de querer ou não adaptar-se a todo um mundo novo.
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