O que está a falhar entre as empresas e os expatriados em Angola

Depois de 3 anos em Angola, mais 2 a trabalhar diretamente com uma filial Angolana, conheci muitos expatriados e empresas em Angola. Notei duas coisas em mim próprio e em quase todos estes expatriados em Angola…

  1. A maioria dos expatriados em Angola são muito bem pagos! (é perfeitamente normal em Angola pagar-se mais 5000 USD limpos)
  2. Apesar disto, muitos destes expatriados em Angola estão infelizes e sobretudo extremamente frustrados com a sua experiência de expatriamento.

Luanda é uma das cidades mais cara do mundo e por vezes é um lugar bastante complicado para se viver, mas é também muito interessante. Um expatriado em Angola pode esperar ganhar 4 ou 5 vezes mais do que no seu país de origem. Além disto, ainda é provável que tenha direito a casa, carro, subsídio de alimentação, etc…

As empresas estão a gastar demasiado dinheiro com estes expatriados para não os ter completamente motivados e eficientes. Se um funcionário custa 10 000 a 15 000 USD por mês, este funcionário tem de ser eficiente… mas as empresas têm de criar condições para isso acontecer.

A maioria dos gestores parece não perceber que pagar bem (muito bem!) não é suficiente para ter os seus expatriados felizes e completamente comprometidos à empresa. Honestamente, não faz qualquer sentido ter estes funcionários e não os manter motivados, integrados e focados em fazer um excelente trabalho.

A maioria das empresas ainda olha para os seus recursos humanos de uma forma muito tradicional. Aparentemente, pensam que só alto salário é suficiente para toda a gente andar motivada. O problema é que já foi demonstrado diversas vezes que não é assim que funciona.

Working as an expat in Angola
Expatriados em Angola

Falácias comuns sobre os expatriados em Angola

  • Estamos a pagar salários premium, dar alojamento, viaturas, etc., o que é suficiente para resolver os seus problemas

Enormes salários e regalias não resolver os problemas de adaptação dos expatriados a um país completamente diferente. Por vezes seria mais eficaz para as empresas pagar um pouco menos e oferecer mais apoio aos funcionários (procura de casa, segurança, e ultimamente nas transferências dos salários)

  • Eles são os melhores, eles conseguem resolver os problemas

Os expatriados são normalmente selecionados com muito cuidado, e é habitual serem tecnicamente muito bons, com capacidades técnicas muito valiosas para empresa.

Mas só porque são muito bons tecnicamente, as empresas esperam que consigam resolver todas as situações sem grande ajuda – mesmo se situações inesperadas ou coisas muito diferentes do que estavam a espera. As empresas tendem a desvalorizar a importância destas dificuldades ou o esforço necessário para as resolver.

  • Somos uma multinacional damos apoio aos nossos expatriados a partir da nossa sede

Com sorte, talvez 2 ou 3 pessoas entendem o que significa ser um expatriado, os outros andam às aranhas ou simplesmente não têm formação suficiente nem sensibilidade para perceber os problemas e as necessidades que um expatriado tem e tudo o que passa em Angola.

Sem um apoio efetivo um expatriado não terá a eficiência esperada.

Salário Expatriado em Angola
  • Contratamos apenas o expatriado, e não a sua família…

Os expatriados têm família, esposa, filhos… As empresas muitas vezes ignoram completamente esta realidade, não facilitando viagens de volta, ou ajudando os expatriados a relocalizar as suas famílias. Um expatriado continuamente preocupado com a sua família, não estará tão focado como poderia.

  • A Angola atualmente já não é o que era, e é parecido com estar em casa

Angola mudou muito e melhorou significativamente nos últimos 10-15 anos. Existem bastante estrangeiros, e mais coisas para se fazer…

Mas nunca é o mesmo do que estar no país de origem… e ainda está a milhas do que é a Europa e os EUA. Se esquecermos ou ignorarmos esta realidade, apenas vamos criar fricção entre a sede e os expatriados.

É seguro viver em Angola?

Estes mitos sobre a vida de expatriado, e sobre o trabalho de um expatriado em Angola deveriam ser bastante óbvios para os gestores de empresas internacionais, e até de empresas mais pequenas.

Infelizmente, a nossa experiência diz-nos que muitas empresas ignoram estas situações criando conflitos e prejudicando tanto os expatriados como as empresas.

As empresas precisam de aprender como gerir os seus expatriados! Elas não estão a perceber que terem os seus colaboradores satisfeitos protege o seu investimento no funcionário e no país.

E estas estão a gastar mais de 10 000 USD por mês, por expatriado! É forte investimento, que tem de render. E para render o expatriado tem de estar focado no seu trabalho, na sua missão e em transferir conhecimentos…

Como podem as empresas melhorar a sua gestão dos expatriados

  • Manter uma comunicação forte, clara e regular

Esta comunicação deve ser tanto formal como informal. As empresas deve estabelecer desde inicio que os expatriados têm de fazer relatórios regulares – relatórios sobre a sua adaptação à nova cultura, às dificuldades do dia a dia que estão a impedir atingir os objetivos planeados.

Até visitas à sede deveriam ser obrigatórias. Perder contacto direto com o expatriado é o primeiro passo para o divórcio entre o expatriado e a empresa.

Viver e trabalhar em Angola como expatriado
  • Ter um plano de carreira e de repatriação

A maioria dos expatriados acaba por sair da empresa pouco tempo depois da sua repatriação, porque se sentem desvalorizados pela empresa ou porque não vêm futuro lá… Eles sentem que o seu esforço e experiência durante os anos de expatriação não é reconhecido e valorizado.

Por vezes apenas algumas semanas antes da repatriação o seu futuro ainda não é claro, nem o seu futuro cargo, nem o que será esperado dele ou o que ele pode esperar da empresa.

Tanto a expatriação como a repatriação são eventos que mudam a vida das pessoas e as empresas precisam de perceber, de respeitar e de se preparar para isso.

  • Estabelecer regras claras e estáveis

Mudar a nossa vida e a vida de nossas famílias já é suficientemente stressante. Se as empresas não estabelecerem regras claras e estáveis sobre o que se espera, sobre o que vai acontecer, e sobre o que se espera do expatriado então este não irá andar tão focado como poderia.

Pior, correm o risco de terem os seus funcionários a perder tempo com problemas pessoas em vez de estarem a fazer o seu trabalho. Num país como Angola, com possíveis problemas sociais, de segurança e estabilidade, isto é ainda mais relevante.

empresas e expatriados em Angola
  • Manter as promessas

Algumas empresas tendem a mudar os termos da expatriação depois desta começar. Isto pode ser visto como muito pouco ético e é umas das melhores e mais óbvias formas de fazer o expatriado infeliz e à procura de mudar de empresa. Vimos isto acontecer várias vezes em Angola.

O pior de tudo é que mesmo que a empresa não seja pouco ética conosco, se virmos isto acontecer a outros, é natural que se pense “Se a empresa faz isto ao meu colega, vai fazer-me o mesmo…”

  • Não ser poupado (nas coisas erradas)

As empresas tendem a começar a poupar nas coisas erradas, como em bilhetes de avião, reduzindo bónus e regalias anteriormente acordadas… Voltamos a repetir, os expatriados são extremamente caros e estar preocupado com 100 USD por mês, quando se está a gastar 10 000 a 15 000 USD é simplesmente irracional.

Estes 100 USD fazem pouca ou nenhuma diferença para o orçamento da empresa, mas ter os seus funcionários insatisfeitos ou até ressentidos pode destruir a ligação entre a empresa e o funcionário. E, aí sim, irá fazer a diferença…

Angola expats

Uma coisa boa, tornada má – exemplo do que não fazer

Muitos expatriados negociam 2 ou 3 viagens anuais. É uma óptima ideia, toda a gente quer voltar ao país de origem, estar com a família e amigos por alguns dias e relaxar. É uma regalia que todos apreciam… muito!

Problema? Quando uma empresa não é organizada, define regras simples para todos e marca estas viagens atempadamente, as coisas tornam-se complicadas…Este bilhete não é marcado atempadamente, o preço sobre x USD, e a empresa afinal não quer marcar naquela data, ou quer fazer uma escala absurda, tornando a viagem horrível… que ninguém quer fazer! 

O que poderia ser uma boa coisa, é agora uma razão para ressentimentos e fricção entre empresa e expatriados. Será que os 200 USD valem a pena o risco de ter os maiores recursos da empresa, que custam mais de 10 000 USD por mês, estarem agora insatisfeitos e com muito menos vontade de dar tudo pela empresa?

trabalho Angola expatriados

Conclusão

As empresas em Angola precisam de olhar para o seu capital humano como o seu maior recurso, e os expatriados são uma das suas maiores fontes de valor.

O valor de um expatriado vem da sua capacidade para ter bom rendimento mas também de conseguir transferir o seu know-how da sede para a sua filial Angolana e trazer alguns skills muito específicos e conhecimento com a sua expatriação.

Empresas que querem manter este conhecimento, têm de conseguir reter os expatriados durante e após a repatriação… Para ter sucesso nestes objetivos as empresas têm de conseguir gerir as necessidades dos expatriados, e não apenas pagar-lhes salários enormes e esperar que tudo corra bem.

expatriados em Angola
Expatriados em Angola

O salário é importante (e sem ele seria impossível atraí-los) mas é apenas um dos fatores que vai determinar que um expatriado está motivado, focado e a render… mesmo depois da repatriação! 

Respeito, comunicação, estabilidade, confiança mútua, haver um plano de carreira são importantes para qualquer funcionário mas com expatriados são fundamentais.

Sharing is caring!