Já há algum tempo que queríamos fazer um artigo resumindo a nossa experiência de trabalhar em Angola. Após quase 5 anos a trabalhar para uma empresa Angolana, primeiro a partir de Portugal (com várias visitas a Angola) e depois vivendo em Luanda, posso dizer com segurança que esta experiência mudou-nos!
Em Angola melhorei as minhas soft skills, as minhas aptidões sociais, e mais importante, a minha capacidade de adaptação a um ambiente sempre em mudança. Também iniciamos este site, e desenvolvemos o nosso gosto por viajar e ir cada vez mais longe e a ser mais aventureiros.
Por outro lado, não tive oportunidades para receber formação formal e continuar a melhorar tecnicamente, mas também não esperava outra coisa.
Assim, o que se pode esperar aprender quando se vai trabalhar para Angola como expatriado?
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#1 Liderança
Quando cheguei a Angola tinha pouca experiência a liderar pessoas e o meu primeiro trabalho em Angola foi criar um departamento de cobranças, a partir do zero. Tive a liberdade completa para organizar o departamento e recrutar as pessoas que quis.
Com o crescimento do departamento foi possível começar a definir objetivos, persuadir, inspirar e motivar os colegas para atingir estes objetivos.
Um líder tem de desenvolver uma estratégia, dar formação, comunicar claramente, ouvir o feedback, monitorizar a performance da equipa e criar relatórios relevantes para a administração.
Apesar disto não ser uma novidade, trabalhar em Angola dá-nos a oportunidade de dominar estas habilidades mais rápido e melhor.
#2 Lidar com responsabilidade
Ao trabalhar em Angola tive a responsabilidade de criar e liderar algo completamente novo na empresa e que também era na altura muito pouco comum em Angola – um departamento de crédito e cobranças.
Um ano após a minha chegada fui convidado a liderar o departamento de cobranças e a tornar-me um dos representantes legais da empresa.
Tive de aprender a lidar com esta responsabilidade acrescida e se não fosse a minha presença em Angola nunca teria tido esta oportunidade tão rapidamente.
#3 Uma sociedade multiétnica
Antes de chegar a Angola nunca tinha apercebido quantos grupo étnicos diferentes existem em Angola. Luanda tornou-se uma sociedade multiétnica e isso é muito bom.
Além dos óbvios Angolanos e Portugueses, em Angola conheci Brasileiros, Sul Africanos, Americanos, Indianos, Chineses, Vietnamitas, Filipinos, italianos, Franceses, etc, etc, etc…
Trabalhar em Angola dá-nos a oportunidade de trabalhar com pessoas bem diferentes, com crenças, hábitos, habilidades e especialidades diferentes. Estar exposto a esta realidade dá-nos uma consciência cultural, tolerância, e conhecimentos que se refletem em melhores pessoas e funcionários.
Acredito que esta diversidade dá-nos uma oportunidade de aprender e crescer que será uma vantagem para o resto das nossas vidas pessoais e profissionais.
#4 Adaptar-se a um ambiente em constante mudança
Em Angola tudo muda muito rapidamente, e com a crise petrolífera ainda mais. Tudo o que acontece em apenas uma semana é incrível. Há sempre alguma coisa que precisa da nossa intervenção, alguma mudança, alguma questão nova.
O ambiente económico mudou muito nos últimos anos, com novas leis, e uma pequena revolução que está a decorrer no sistema fiscal.
Infelizmente em Angola estas novas leis e sistema fiscal são postos em prática sem grande informação e aviso, e por isso é necessário estar em constante alerta e preparado para adaptar o trabalho das equipas à nova realidade.
Com a crise da moeda isto é ainda mais verdadeiro, e quanto mais rápida e eficiente for a nossa resposta às novas exigências, melhor pra nós e para a empresa.
#5 Cada pessoa tem as suas próprias prioridades
Em cada empresa, há muitas forças opostas e o resultado deste jogo de forças é que define a direção de um projeto ou empresa. Cada pessoa tem os seus interesses e a sua agenda, e por vezes estes são concorrentes entre eles ou então simplesmente têm prioridades diferentes.
Para alguma pessoas fazer o seu trabalho bem feito é extremamente importante e até estão dispostos a fazer sacrifícios para o conseguir e atingir os seus objectivos; para outros, é simplesmente uma forma de ganhar dinheiro; e ainda há os que simplesmente não querem saber e o importante é trabalhar o mínimo possível.
Infelizmente vai conhecer bastantes pessoas em Angola que não gostam do seu trabalho, ou não sentem nenhum orgulho em ter um trabalho bem feito.
Felizmente, também é possível encontrar pessoas que têm e por isso é que os pontos #6 e #7 são tão importantes.
#6 Recrutamento é a coisa mais importante
Acredito que o maior recurso de uma empresa é o seu capital humano, e por isso a política de recrutamento de uma empresa é o primeiro passo para se garantir o sucesso de um projeto, departamento, e empresa. Num país onde os recursos humanos são escassos, o recrutamento é ainda mais importante.
Apesar de necessitarmos de pessoas com experiência, muito cedo nos apercebemos que no longo prazo o seria melhor contratar pessoas para forma e desenvolver internamente os recursos humanos.
Assim, em Angola, a coisa mais importante a procurar num potencial colaborador é a sua capacidade para aprender e o seu compromisso com o trabalho, e não os seus conhecimentos técnicos atuais.
Depois de chegarmos a esta conclusão, tudo se tornou mais fácil e conseguimos contratar pessoas com excelente potencial e que se tornaram muito valiosas internamente.
#7 Dar formação e desenvolver os recursos humanos
Se o recrutamento é a coisa mais importante numa empresa em Angola, a formação e desenvolvimento dos recrutas é a segunda. Tem havido um enorme esforço por parte dos angolanos para conseguir andar na faculdade e tirar um curso superior, mesmo tendo de trabalhar e tomar conta da família enquanto o fazem.
Mas infelizmente o sistema educativo angolano é ainda muito pobre, e por isso umas das maiores contribuições que um expatriado em Angola pode dar é ajudar na questão da formação.
É, ou devia ser, parte do trabalho de qualquer expatriado transferir parte dos seus conhecimentos técnicos. Normalmente, prefiro dar formação enquanto se trabalha, e por isso costumamos dar apenas formação inicial e depois à medida que as situações e dúvidas vão surgindo vamos ensinando as questões mais complexas.
No entanto, independentemente do caminho que se percorre o importante é que um expatriado em Angola tem de mostrar como se faz o trabalho, as melhores práticas, e sobretudo criar condições para que seja possível o trabalho ser feito independentemente da sua presença.
Finalmente e para terminar, quero reforçar que Angola permitiu-me crescer como pessoa e como profissional. A oportunidade que tive para trabalhar em Angola, tornou isso possível, apesar das dificuldades do dia a dia.
Aliás, uma das razões que Angola nos faz crescer é exatamente toda a experiência que essas dificuldades nos dá.
Cada pessoa irá aprender novas e diferentes coisas trabalhando em Angola mas uma coisa é certa, Angola muda-nos! Deixa-nos mais preparados para aventuras no futuro. Por outro lado, espero ter conseguido retribuir ajudando a melhor as skills dos meus colegas, e que isso lhes seja útil no futuro.
Tenho a certeza que alguns deles são agora mais eficientes, organizados, e capazes de resolver problemas por eles próprios. Tal como costumava dizer, espero tornar-me desnecessário. Se já não for preciso em Angola, então o meu trabalho foi bem feito.