“Porque está lá” é talvez a frase mais famosa do mundo do montanhismo. Não somos montanhistas, não queremos ser, nem seriamos bons nisso, mas quando chegamos ao topo do Vulcão Acatenango, percebemos exatamente o que George Mallory queria dizer quando lhe perguntaram: “Por que quer subir o Evereste“.
A maioria das pessoas faz o trilho em dois dias, passando a noite no Base Camp. Esta é sem dúvida a melhor opção, pois permite ver a erupção durante a noite e dá tempo para descansar. É possível subir e descer no mesmo dia, mas além de bem mais difícil fisicamente, toda a experiência será mais apressada e menos satisfatória.
Neste artigo vamos explicar tudo o que precisa de saber para subir ao topo do Vulcão Acatenango e ver o Vulcão Fuego em erupção, incluindo as agências, onde ficar, como é a subida, o que levar, e o que esperar desta experiência.
O trilho que fizemos e que sugerimos divide-se em duas partes, a primeira desde a aldeia de La Soledad até ao Base Camp e depois desde o Base Camp para o topo do Vulcão. A primeira fase é bem mais longa, mas são apenas uns 6.5 km. A questão é que La Soledad está a cerca de 2400 metros de altitude, enquanto que o Base Camp fica a cerca de 3600, por isso temos cerca 1200 metros de subida.
A segunda parte vai desde o Base Camp até ao topo do Vulcão a quase 4000 metros. Ou seja, em Português, duas Serras da Estrela? A distância percorrida nesta secção é curta, no entanto é muito inclinada, e muito dura com o vento, areia vulcânica e altitude a dificultar a nossa vida.
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Vulcão Acatenango e Fuego
Com 3976 metros, o vulcão Acatenango é o terceiro ponto mais alto da Guatemala e da América Central (não considerando o México). Por isso, chegar ao topo é em si mesmo uma conquista única para muitas pessoas. Além do mais, as vistas do topo são absolutamente fabulosas pois podemos ver os diversos vulcões que o rodeiam (Água, Atitlán, Fuego, San Pedro, Pacaya, entre outros), o lago Atitlán, e várias cidades como Antígua e Cidade da Guatemala.
No entanto a maior atração do Acatenango é mesmo o Vulcão Fuego. O Fuego é um dos vulcões mais ativos do mundo e está constantemente em erupção e explosão. A cada 15 ou 20 minutos há uma explosão onde se vê os fumos, cinzas e rochas vulcânicas a sair do topo Fuego.
Durante o dia, praticamente apenas se vê os fumos e cinzas, mas com o anoitecer o espetáculo é muito melhor. A ausência de luz permite-nos ver a lava incandescente a voar pelo ar e depois escorrer pelo vulcão. É realmente inesquecivel.
Se quiser ver um vulcão ativo e sentir as suas explosões de perto, então este trilho ao Acatenango é provavelmente uma das melhores hipóteses. É duro e frio sim senhor, mas é possível para uma boa parte das pessoas, e existe uma quase garantia de que o Fuego vai erupcionar durante todo dia e noite.
Nota importante: O próprio Acatenango é considerado um vulcão ativo, com várias erupções no século XX. A última aconteceu em 1972, e próxima é impossível de prever quando e se vai acontecer.
Trilho para Vulcão Acatenango – informação geral
- Nome: Vulcão Acatenango
- Inicio: La Soledad
- Fim: Cumbre – topo do Acatenango
- Distância – 8 km, 16 ida e volta.
- Tempo necessário – 2 dias
- Dificuldade – Muito alta
- Máx/min altitude: 2420/3976 metros
- Ganho de altitude: 1556 metros
- Tipo – Linear, ida e volta
- Sinalização (1-5) – Apenas com guia
- Destaques: Erupção do Vulcão Fuego, topo do Acatenango, vistas para o Vulcão Água, Lago Atitlan e várias cidades da Guatemala
Que empresa escolher para subir ao Vulcão Acatenango?
Na nossa experiência, pelo que pesquisamos tanto online como ao vivo, os tours são globalmente muito parecidos. A subida é a mesma, ficam todos no base camp, e usam sobretudo guias locais (apesar de que os donos podem não ser). Ou seja, aquilo que cada agência oferece é bastante similar. Todas as operadoras oferecem Almoço, Jantar e Pequeno Almoço no dia seguinte.
As grandes diferenças está nas tendas, o uso dos materiais emprestados, nas dimensões dos grupos, os guias falarem inglês e nos próprios caminhantes. Os preços também variam bastante, indo desde os 300Q (38€ por pessoa) até mais de 100 Euros.
Ao escolher a operadora é importante confirmar se elas têm tendas fixas e os sacos cama no base camp. A maioria tem, mas não vai querer ter de transportar isso para cima. É também relevante confirmar se no preço dado está incluída a entrada no Parque Nacional, que no momento que fizemos o tour custava 50Q por pessoa.
Depois de falarmos com bastantes agências, e vermos o que cada uma oferecia e os seus preços acabamos por escolher a Barco, que é uma das mais baratas mas é também uma operadora 100% local, o que é importante para ajudar a economia local.
Nossa experiência subindo o Acatenango com a Barco
Estávamos um pouco receosos com a nossa escolha, mas após a subida, escolheríamos esta operadora novamente. O único ponto negativo foi a desorganização e demora inicial ainda em Antígua, pois estivemos mais de 2 horas a recolher os nossos colegas de subida, ir buscar as refeições, os materiais.
A partir daí, e sobretudo a partir do inicio da subida tudo correu perfeitamente. Os guias apenas falavam espanhol, mas isso não é um problema para nós. A comida era mais que suficiente. Os materiais emprestados (casacos, sacos cama, gorros, luvas) já tinham bastante uso, mas serviam perfeitamente. Este é um ponto importante, pois de noite e no topo do vulcão faz imenso frio.
É possível subir o Acatenango independentemente?
Sim, é possível mas desaconselhamos vivamente a não ser que tenham todo o equipamento e muita experiência neste tipo de atividades. Notem que faz imenso frio no topo, e é necessário levar roupa quente, sacos cama, tenda, etc.
Subir o Acatenango até ao Base Camp
Um passo de cada vez foi talvez o pensamento que mais nos ocorreu nesta caminhada. Toda a subida é dura, muito dura especialmente para quem não está habituado a estas coisas de subir vulcões com 4000 metros de altitude. O trilho é sempre a subir, e o acumular da altitude, terreno quase arenoso e o peso das mochilas torna tudo um pouco mais complicado.
Mas não tenham receio, não é preciso ser um atleta para conseguir chegar ao base camp, ou mesmo ao topo. Há tempo mais que suficiente, se não se fizer em 4h faz-se em 5 ou 6h, o vulcão não vai a lado nenhum.
O nosso trilho começou por volta das 11:45 em La Soledad, com altitude de 2300 metros. Uma das características deste trilho é que começa logo com uma secção muito dura, com elevada inclinação e solo arenoso que dura cerca de 20 minutos a meia hora. Nesta parte estamos ainda em caminhos rurais e subimos continuamente até chegar a um cafezinho. Ali pode-se beber e até comer alguma coisa.
Depois de uma paragem de 10 minutos continuamos… a subir claro mas desta vez com bastante escadas, o que nos deixou exaustos. Cerca de 40 minutos depois chegamos ao segundo ponto de descanso, a entrada no Parque Nacional. Aqui temos de fazer o registo e pagar a entrada no Parque. Aproveitamos a paragem para almoçar, e livrar-nos de um pouco de peso das mochilas. Estamos já acima dos 2700 metros de altitude.
Ao entrar no parque estamos também a entrar numa nova fase do trilho, passamos de uma paisagem rural/agrícola para uma floresta nublada. O trilho continua a subir bastante, mas agora sem as escadas e sem o terreno arenoso vulcânico, torna-se um pouco menos difícil. Por outro lado a altitude começa a fazer das suas e respirar é mais difícil.
Cerca de meia hora depois, e já acima dos 3000 metros a paisagem volta a mudar, passamos da floresta nublada para uma floresta de pinheiros e com a continuação da subida este floresta torna-se cada vez menos densa até que as árvores começam a rarear, e a ficar apenas arbustos e flora rasteira.
Às 15:20 e a cerca de 3450 metros de altitude temos uma espécie de miradouro, onde temos nova paragem para descansar e hidratar. A partir daqui há uma abrupta mudança no trilho, continuamos a subir mas agora a inclinação é muito menor. Depois de tudo o que já subimos parece quase plano…
Depois de mais cerca de 40 minutos ouvimos pela primeira vez o Vulcão Fuego, e pouco depois já o vemos à nossa frente. Às 16:20 temos um último esforço a fazer, temos uma subida final de 2 ou 3 minutos super inclinada, em solo vulcânico que parece areia. Cada passo custa imenso, após tanto esforço, mas são apenas uns minutos e eventualmente lá vemos o Base Camp e a nossa tenda. Primeiro objetivo cumprido.
A tenda da Barco está localizada num local perfeito, a mais de 3600 metros de altitude, mesmo em frente ao vulcão Fuego. Dali podemos assistir a todo o espetáculo que o Fuego dá.
Do Base Camp até ao Vulcão Fuego
Praticamente todas as operadoras oferecem a oportunidade para ir até ao vulcão Fuego para ver e sentir ainda mais de perto todo o seu poder. Dado que estávamos completamente exaustos decidimos que não era boa ideia fazê-lo. Pareceu-nos bem mais apelativo ficar sentados ao por do sol virados para o vulcão e a assistir as erupções.
No entanto quem ainda tiver energia e resistência física tem essa oportunidade. Esta parte do tour tem um custo extra, que também varia de empresa para empresa. Pelo que pudemos apurar, ir até ao Fuego implica voltar a descer uns 300 metros pelo Acatenango e depois voltar a subir. Além do esforço físico que isto envolve, o anoitecer iminente implica fazer uma boa parte do trilho de noite.
O espetáculo do Vulcão Fuego e a noite no Campo Base
Como podem ver pelas fotos, a vista a partir do Base Camp é fabulosa, seja de dia ou de noite. De lá vemos o Vulcão Água, que quase fica esquecido devido às erupções do Fuego, algumas vilas e aldeias da Guatemala, e Antígua Guatemala de onde partimos.
À medida que anoitece, as erupções do Fuego tornam-se cada vez mais visíveis e espetaculares. Todo o trilho, as vistas, e a experiência são memoráveis mas ver um vulcão em ativo mesmo à nossa frente é uma experiência inesquecível. Vale a pena todo o esforço para ali chegar. Além de ser o ponto mais alto da nossa viagem à Guatemala, é também uma das mais espetaculares que já vimos.
No entanto com o anoitecer, a temperatura também baixa repentinamente e o vento torna a sensação de frio ainda maior. Felizmente é possível fazer uma fogueira para nos aquecer enquanto jantamos Spaghetti com molho de tomate, bebemos chocolate quente. No fim temos uma pequena surpresa para sobremesa: marshmallows para aquecer no fogo.
Subida ao topo do Acatenango – Cumbre
A subida ao topo do Acatenango faz parte do tour, mas na prática é opcional pois muita gente opta por ficar pelo Base Camp. Do nosso grupo apenas 5 (nós incluídos) em 13 pessoas foram.
A subida para o cumbre começa as 4 da manhã, ainda de noite. O objetivo é ver o nascer do sol lá em cima, e por isso faz-se durante a noite, uma boa parte com escuridão completa. No total são só uns 350 metros de desnível, mas foi provavelmente a subida mais difícil que já fizemos.
A altitude, o solo arenoso, o vento e o frio tornam tudo um pouco mais complicado, mas no final somos recompensados com vistas majestosas de 360º. Vemos o Fuego claro, mas também outros 5 ou 6 vulcões, o lago Atitlán, e dizem que dias de ótima visibilidade consegue-se ver o Pacífico.
Infelizmente não é possível ficar lá em cima muito tempo. Há imenso vento praticamente todos os dias o que faz com que a baixa temperatura pareça ainda menor. Mesmo com várias camadas de roupa quente sente-se o frio a penetrar. As boas noticias é que a partir daqui é sempre a descer. A descida é muito mais rápida e fácil, e em 30 a 45 minutos estamos de volta ao Base Camp.
Descer do Acatenango
Depois de um pequeno almoço rápido, e mais algumas explosões do Fuego está na hora de descer. Vamos exatamente pelo mesmo caminho, pelo que é praticamente sempre a descer. A descida é bem mais rápida, mas é necessário alguma atenção para não escorregar, cair e estragar a viagem com uma entorse ou pior.
Apesar de algumas escorregadelas, saímos do Base Camp às 08:00, por volta das 11:00 estávamos no inicio do trilho e às 12h estávamos de volta em Antígua no nosso alojamento. Prontinhos para descansar o resto do dia e ir dormir bem cedinho porque a aventura foi memorável mas não se dormiu nada.
Melhor altura do ano para fazer o trilho
Tanto quanto sabemos esta é uma subida que pode ser feita durante todo o ano, mas é sem dúvida melhor fazê-la durante a época seca. Tanto o tempo como a visibilidade são, em geral, melhores. No entanto temos que realçar que em alta montanha o tempo é completamente imprevisível, e muda muito rapidamente. Além do mais, pode estar bom tempo em Antígua, e mau na montanha. Ou o inverso.
Se tiver algum tempo e flexibilidade, o ideal será ir acompanhando a previsão do tempo e tentar ir num dia em que não se prevê chuva e Nevoeiro.
Quem pode fazer o trilho?
Este é um trilho bastante duro, é mesmo o mais duro que já fizemos. No entanto quem estiver habituado a fazer caminhadas longas, ou exercício físico conseguirá fazê-lo. Não é de todo preciso ser um atleta profissional. É muito provável que fique com dores de pernas nos dias seguintes, mas é apenas isso.
Tal como dissemos inicialmente se não se fizerem em 4 horas, faz-se em 5 ou 6. A montanha não vai a lado nenhum, e temos a noite toda para ver o vulcão em erupção. Por último, se achar que a subida já foi suficientemente dura para si, pode ficar pelo base camp e não subir até ao topo. Apesar de muito satisfatório, mas não de todo obrigatório.
Dito isto, não é aconselhável a crianças nem idosos.
O que levar para a subida ao Vulcão Acatenango
Este é um trilho de dois dias, com a noite passada num vulcão ativo a quase 4 000 metros de altitude. Assim, é preciso bastante atenção com o que se leva e o que é necessário. Não leve mais do que precisa, pois vai ter de o carregar para cima e para baixo. Todas as agências vão explicar detalhadamente o que precisa, mas aqui fica o que nós precisamos e o que achamos indispensável:
- Muita água (no mínimo 3l por pessoa) – notem que todas as agências pedem que levem um litro extra para contribuir para as refeições que se toma no base camp. Nalguns casos a agência fornece a água, como foi o caso da Barco, mas confirmem sempre.
- Snacks extra – a comida que recebemos é mais que suficiente, mas sabe sempre bem levar umas bolachas, frutos secos ou doces para tomar na subida/descida.
- Calçado de caminhada – é muito importante levar calçado confortável e sobretudo com boa aderência para não se escorregar.
- Roupa confortável e quente – leve roupa quente, e de preferência camadas de roupa.
- Casaco de chuva para o caso de chover;
- Casaco de inverno, luvas, gorros, peúgas;
- Se o tempo estiver bom, aconselhamos que leve roupa leve e confortável de caminhada para a subida. A roupa quente será necessária sobretudo lá em cima.
- Óculos de sol, chapéu e protetor solar;
- Lanterna de cabeça para a subida ao Fuego e ao topo do Acatenango. É possível usar o telemóvel, mas dá muito mais jeito não estar constantemente com o telemóvel na mão.
- Bastão de caminhada – dá imenso jeito mas não se precisa de preocupar com isto pois existem pessoas a vender bastões de madeira no inicio da subida.
- Câmera e telemóvel, pois existem imensas oportunidades para tirar belas fotos.
- Mochila tão pequena quanto possível para levar tudo isto;
Nota importante: As agências emprestam ou alugam (depende da agência) praticamente todo o material que precisa de levar. Desde casacos quentes, a mochilas e lanternas. Veja com atenção o que a cada agência oferece pois pode ser importante. No nosso caso não tínhamos praticamente nada (só mochila e calças) do que era preciso para levar e mesmo assim subimos pois a agência emprestou-nos casacos, luvas e gorros.
Como sempre, por favor não faça lixo. Traga tudo o que levar consigo.
Como chegar ao trilho?
O trilho começa em La Soledad, junto ao cemitério. No entanto, dado que é um trilho que se faz com guias e através de uma agência esta é uma não preocupação. Algumas agências vão buscar-nos ao hotel como foi o nosso caso, outras pedem aos caminhantes para ir ter às suas instalações em Antígua.
Seja como for, o centro de Antígua é bastante pequeno e por isso facilmente de vai de um lado para o outro. Seja de Tuk-tuk ou a pé. É apenas uma questão de confirmar com a agência ao marcar o tour.
Onde ficar quando fizer a subida do Vulcão Acatenango
O lugar a ficar é sem dúvida em Antígua, de preferência bem perto do centro. Existem imensas opções de alojamento, e para todos os bolsos.
Booking.comA subida para o Vulcão Acatenango foi um dos desafios físicos mais complicados que fizemos, mas chegar ao topo e ver o mundo de cima trouxe-nos também um das melhores sensações de realização que já sentimos. Além do mais, não é todos os dias que se vê um vulcão em erupção.